Nove Meses

Impressões e notas de uma segunda gravidez. Por mamã babada e seu primogénito de dois anos.

A Constança já tem
Lilypie Baby Ticker

26.7.05

A nossa história continua aqui.

25.7.05

1 mês

A Constança já tem um mês. Um quinto do meu tempo de exclusividade com ela já se passou.
Já não dorme o dia inteirinho, fica uns bocadinhos acordada. Fixa todas as coisas à sua volta e parece estar a estudar tudo muito atentamente. O móbil musical deixa-a encantada, parada e atenta. Também já liga à bonecada em geral e, surpreendentemente, mexe as mãos até conseguir tocar naquilo que vê. Claro que não tem controlo de movimentos para isso, mas que tenta, tenta. Já me brindou com um sorriso aberto e intencional em resposta às minhas patetices. O papá teve mais sorte, porque o sorriso dirigido a ele foi tal que até saiu som. A primeira gargalhada deixou o pai babadérrimo e a Constança baralhada - "de onde é que saiu este som? fui eu??"
As noites podiam ser melhores, mas também não são más de todo. De sábado para domingo, tive direito a um intervalo entre a meia noite e meia e as seis e meia da manhã. Luxo absoluto. Regra geral mama de quatro em quatro horas. A coisa correria maravilhosamente se, finda a paparoca, adormecesse na sua caminha silenciosamente. Não é bem assim. Dá luta. Quer ficar acordada. Choraminga, chora e remexe-se. Já a deixei a chorar uns bons minutos para ver se captava a mensagem. Não captou ainda muito bem. Vamos lá com o tempo. Não me tem custado muito. Parece que acordar a meio da noite, duas vezes por noite, se tornou uma coisa normalíssima para mim. Eu, a dorminhoca-mor, que adormecia todos os dias a dar de mamar ao Henrique. Há coisas que mudam mesmo em nós. Esta foi uma delas. Ainda bem.
Sinto que este bebé despertou em mim o mais forte dos instintos maternais. Não é que não o tivesse antes, acho que tinha, mas agora está mais forte. Aquela dedicação absoluta e incondicional que admirava em algumas mães. O acordar a meio da noite calmamente, o despertar ao mínimo ruído, o largar tudo para lhe dar de mamar...
Não me canso de olhar para ela, e olho durante muito tempo para não me esquecer.

13.7.05

3 semanas

Já passaram três semanas. Tento aproveitar ao máximo cada minuto, cada hora da minha filhota, para que o tempo passe devagar... mas a verdade é que o tempo voa.
A Constança está óptima. Continua a ser uma menina linda e muito calminha. Mama muito bem, mas adora adormecer passados dez minutos, depois lembra-se que ainda tem fome e daí a meia hora está a pedir mais. Mas a mamã vai-lhe aprendendo as manhas e contorna-as com uma grande pinta. Agora, quando a menina começa a adormecer muda-lhe a fraldinha e ela desperta novamente para a segunda parte da refeição.
Na sexta-feira passada fui pesá-la e já estava com 2,900 kg. Nada mau. E parece continuar a crescer. Vê-se pelas roupas e pelo espaço cada vez maior que ocupa no ovinho. Às duas semanas começou finalmente a despertar para o mundo e os períodos acordada aumentaram. Já fica a observar o que a rodeia, já fixa os objectos e a nossa cara. Já esboça sorrisos frequentemente. Demonstra claramente quando algo lhe agrada, fazendo uma expressão inconfundível. E o que lhe agrada mais? Banhinho (com água muito morninha, entre 34º e 35º, mais do que isso reclama), que a dispa e lhe tire a fralda e que lhe dê festinhas na cabeça.
Finalmente, o que continua a ser sempre motivo de alegria para ela são os carinhos e as atenções do mano.

A propósito, o Henrique candidata-se seriamente ao lugar de melhor mano do mundo. É uma ternura. Mas é só com ela, porque de resto está uma verdadeira peste. Ele já era eléctrico agora está hiper-eléctrico.

A mamã continua na maior. E...só não se está a portar muito bem com história da ginástica pós- parto. É uma vergonha mas ainda não se foi inscrever. Deve estar a gostar da imagem de super baleia...

6.7.05

Relato de um parto

Faz hoje duas semanas. Já tenho a distância temporal suficiente para escrever sobre o assunto sem me dar vontade de chorar.
Acordei por volta das oito e meia e senti-me sem mais sono. Tomei o pequeno-almoço. Liguei o computador para ver o mail enquanto comia. Sentia-me estranha. Instintivamente percebi que a Constança ia nascer. Umas pequenas dores de barriga. Um corrimento rosa, levemente ensanguentado. Fiquei contente. Provavelmente ainda nesse mesmo dia ia conhecer a minha filhota. Às 9:50 coloquei um post neste mesmo blog a dizer que provavelmente estava a entrar em trabalho de parto.
Estava calmíssima e relaxada. Afinal…era apenas o princípio de um longo processo e tinha ainda tempo para fazer imensas coisas. Entretanto o Henrique acordou, fiz-lhe a papa e dei-lha enquanto ele via o Play House Disney. Percebi que estava com contracções de meia em meia hora. Telefonei para o colégio a avisar que ele não ia. Não me sentia em condições para me meter no carro com ele e conduzir os 15 minutos que nos separam da escola. Às dez horas telefonou-me o papá, que estava a trabalhar desde as 4h30…disse-lhe que estava a chegar a hora, mas que ele não precisava de se stressar, que eu estava bem, ainda devia faltar imenso tempo, e que podia acabar o seu trabalho e sair à hora habitual – 11horas. Às 10h20 telefonou-me a minha mãe…estranhei o telefonema tão cedo, mas ela disse-me que estava preocupada comigo. Quando lhe disse o que se estava a passar ficou em pânico: eu sozinha em casa com uma criança de 3 anos, e em trabalho de parto. Lá descansou quando lhe disse que o R. sairia às 11 horas.
Fui arrumar uma louça que estava por arrumar e estava a varrer o chão da cozinha quando senti uma água quente a escorrer por mim abaixo. As águas tinham rebentado. Eram 11 horas. A partir daí, as contracções ficaram mais fortes e cada vez menos espaçadas. Telefonei ao papá que entretanto estava quase a chegar. Chegou por volta das 11h30. Saímos logo de casa, passámos por casa dos meus pais para deixar o Henrique com o avô e seguimos para o hospital. O caminho parecia interminável. Ainda me lembrei de ligar à minha médica para saber se ela estava de serviço. Estava no consultório mas ia para o hospital à tarde. Pensei que era desta que ela iria assistir ao parto.
Cheguei ao hospital por volta das 12:15. Estava com 4 cm de dilatação e o colo do útero muito mole. A médica da urgência parece ter ficado toda contente por terem finalmente trabalho! Depois percebi que o bloco de partos estava vazio. Por essa altura eu estava já com contracções de minuto a minuto. Percebi que aquilo estava tudo a avançar muito depressa. Insistiram, ainda assim, em me ligar ao estúpido CTG. Eu torcia-me de dores e não suportava estar deitada de barriga para cima. Lá me deitei de lado e ficou mais suportável. Entretanto, senta-se uma enfermeira ao meu lado para me fazer um questionário…perguntas do género: "habilitações escolares minhas e do pai da criança, profissão de ambos, se o meu trabalho implicava esforço". Eu nem queria acreditar. Tentava concentrar-me na dor e em manter-me calma e faziam-me responder àquelas coisas estúpidas. Deixei de responder, concentrei-me em fazer a respiração, e a enfermeira largou-me… Lá se decidiu a levar-me para a sala de partos, não sem antes passar pelo WC para um clister. Por essa altura eu estava realmente com muitas, muitas dores. Tinha tanto calor que me despi e enfiei-me no duche morno. Foi uma sensação fantástica. Fiquei a sentir-me bem melhor. Levaram-me de cadeira de rodas para a sala de partos. Quando eu perguntei quando me iam dar a epidural…senti que ninguém tinha pensado nisso. Fiquei em pânico, e eu não sou de pânicos, mas estava tão aflita que a perspectiva de mais umas cinco ou seis horas de dores daquelas pareceu-me impossível de suportar. A enfermeira disse-me que ia avisar o anestesista, que naquele momento não estava disponível, mas que achava que já não dava para aplicar a epidural. Só me lembro de me tentar preparar psicologicamente para aguentar a dor e concentrar-me na respiração. Naquele momento já não havia sequer intervalos entre contracções, era uma espiral de dores intensas ou muitíssimo intensas e que pareciam não parar nunca. A enfermeira olhava para o CTG e disse-me, isto está a avançar muito rápido. Vão chamar o pai. Deviam ser mais ou menos 13:20. O R. chegou ao pé de mim e eu mal consegui falar. Mas a sensação de o ter ali ao meu lado foi de um alívio imenso. Estava-me a fazer falta um miminho. Acho que ele não estava preparado para me ver daquela maneira. A última vez que tal coisa lhe tinha acontecido, tinha encontrado uma mulher sorridente, conversadora e calma, sob o efeito de uma milagrosa anestesia. Perguntou-me se não estava com epidural…e eu disse-lhe que não sabiam se me iam dar, porque diziam que já não havia tempo. Saltou-lhe a tampa, perguntou à enfermeira onde é que estava o anestesista. A enfermeira só lhe disse que a situação estava a avançar mesmo muito depressa e que possivelmente já não iria ser possível. Decidiu fazer-me novamente o toque (eu acho que devo ter trepado pela cama acima), 6 para 7 centímetros e a avançar muito bem… o comentário "está tão bem posicionado para nascer, está mesmo prontinho, falta pouco", deu-me novo alento e força para continuar calmamente a fazer as benditas respirações sem perder o controle. Claro que o meu conceito de faltar pouco era obviamente diferente do da enfermeira. Eu achava que teria que esperar pelo menos, e sendo optimista, mais uma ou duas horas. Mas…para minha surpresa, não devem ter passado sequer 10 minutos e comecei a sentir uma vontade irresistível de fazer força. A sensação é impressionante. Não foi preciso dizer nada à enfermeira, ela percebeu o que se estava a passar. Novo toque: "10 centímetros, está completa, vai começar a puxar". Foi-me dando instruções de como fazer e eu tentava ir buscar às gavetas da memória aquilo que tinha aprendido há três anos no curso de preparação para o parto. À primeira vez que fiz força ela disse-me que já lhe via a cabeça, com muito cabelo escuro. Mais duas vezes e senti a cabeça a sair. Um alívio indescritível. Mais um bocadinho e saiu o resto do corpo, olhei para o relógio pendurado na parede: 13:40. Puseram-me a minha princesa em cima do peito. Vi-a pela primeira vez. Tão pequenina, tão frágil e tão forte ao mesmo tempo. Demorou a chorar e quando o fez foi mais um leve gemido que um choro. Ao meu lado o pai, que não deixou nunca de me dar a mão (acho que deve ter ficado com uns dedos esmagados), de me dar festas na cabeça e palavras de apoio, estava visivelmente comovido. Afinal tínhamos acabado de assistir a um milagre. Não houve anestesia, nem episiotomia. Foi um verdadeiro parto normal, que se desenrolou por completo em menos de três horas.

Não posso dizer que não custou. Custou imenso, as dores rasam o insuportável. Mas foi apenas um momento. Passou no segundo em que a Constança nasceu e naquele mesmo momento achei que tinha valido mesmo a pena.

Estive duas horas no recobro e lembro-me de pensar que me sentia lindamente. Estava a tremer incontrolavelmente mas sentia que estava mesmo muito bem. A verdade é que passadas seis horas (não me deixaram antes…) levantei-me para tomar um duche e dei por mim a andar normalmente como se nada tivesse acontecido. Amamentei sentada e saía da cama com a maior das facilidades. Foi uma recuperação espectacular que me ajudou a enfrentar com um sorriso as noites sem dormir, a complicada subida do leite e todas as pequenas contrariedades dos primeiros dias.

A enfermeira que assistiu ao parto teve um papel muito importante nesta recuperação, foi avaliando a resistência do períneo para ver se tinha elasticidade suficiente para não rasgar e evitar a episiotomia. Graças a esse simples gesto foi possível não ter que suportar aqueles pontos horríveis, e tantas vezes desnecessários, que tanto desconforto provocam. Percebi instintivamente que era graças ao profissionalismo e bom senso daquela mulher que tudo tinha corrido tão bem. Felizmente ainda lhe consegui dizer obrigada, antes de me levarem para o quarto.